Sábado do Mastro: continuam os festejos do Ciclo do Marabaixo com respeito ao meio ambiente, no Barracão da Tia Gertrudes
Neste final de semana acontecem mais dois momentos de fé e cultura do Ciclo do Marabaixo. Dia, 21, é o Sábado do Corte do Mastro, e 22, Domingo do Mastro, rituais bastante esperados após os dois anos de isolamento devido a pandemia da COVID-19. No sábado os mastros são retirados das matas do quilombo do Curiaú e acontecem as rodas de marabaixo, e no domingo os troncos são preparados ao som das caixas para os dias de levantação. O grupo Berço do Marabaixo da Favela e a família de Costa, que realizam os festejos para a Santíssima Trindade no Barracão da Tia Gertrudes, estão preparados para mais estes rituais. Eles fazem a diferença por seguirem a tradição sem retirar os mastros da natureza, uma adaptação para estar de acordo com as responsabilidades ambientais.
Os devotos e marabaixeiros saem do bairro Santa Rita às 8h em direção ao quilombo do Curiaú, na Zona Norte de Macapá, onde se encontram com os integrantes dos demais grupos, devotos e famílias que realizam o Ciclo do Marabaixo. É um momento de confraternização dos descendentes dos pioneiros que deram início aos festejos para a Santíssima Trindade e o Divino Espírito Santo, e dançando, tocando caixas e cantando em saudação, entram na mata de onde retiram os troncos que serão ornamentados com ramos de murta e pintados para o momento de levantar os mastros com as bandeiras, nos rituais seguintes.
Responsabilidade social e ambiental
Os participantes do marabaixo do Barracão da Tia Gertrudes assumiram o compromisso de dar continuidade às tradições sem interferir no meio ambiente, garantindo a harmonia entre os festeiros e devotos e a sociedade. Uma das decisões foi a de substituir os mastros de árvores por um artificial, que é usado todos os anos, e realizar ações de conscientização ambiental quanto à preservação de florestas, e para cada tronco retirado para o ritual do mastro, são plantadas mudas no mesmo local pelas crianças que participam dos festejos.
“O bairro Santa Rita foi urbanizado rapidamente, e este crescimento trouxe novos moradores, prédios comerciais e de moradia, vizinhos que não conheciam nossa cultura, e temos ainda as leis ambientais, que nos obrigaram a fazer adaptações para que continuássemos com nossa tradição e devoção sem atritos sociais e urbanos. Obedecemos os limites do som, os foguetes também soltamos em horário certo, e não derrubamos mais os mastros, mas participamos de todos os rituais com os outros núcleos familiares e grupos, com a mesma fé e alegria”, explica Valdinete Costa, da organização.
Após o corte dos mastros os devotos seguem para o balneário Kaduforno, onde é oferecido um almoço e faz-se uma roda de marabaixo com todos os grupos. No retorno, os festeiros do Barracão da Tia Gerrudes deixam os mastros na casa de um familiar, e às 17:30, iniciam o cortejo para buscar os troncos e iniciar a roda de marabaixo, que encerra à meia-noite. No dia seguinte, Domingo do Mastro, os integrantes do Barracão da Tia Gertrudes não realizam a roda de marabaixo, mas participam como convidados das festas nos outros barracões.
Por Mariléia Maciel