Após a morte do filho, delegado faz carta falando pela primeira vez sobre o caso
O delegado Carlos Alberto, pai do pequeno Arthur Benjamim, de 2 anos, que morreu na última sexta-feira (7) engasgado com uma tampa de garrafa pet, em Macapá, falou pela primeira vez sobre a morte do filho, numa carta onde esclarece o caso.
“Sou Carlos Alberto, pai do Arthurzinho e, pela primeira vez, vou realizar esta manifestação pública. Hoje é o terceiro dia da maior tragédia da minha vida e um dos mais tristes também. Como é de amplo conhecimento, após desconfortável disputa processual, consegui por via judicial que o meu filho Arthurzinho ficasse um período comigo. Viajei no natal a Florianópolis para buscá-lo”
Em outro trecho da carta, o delegado detalhou como tudo aconteceu:
“Com relação ao episódio fatal, na minha casa, eu e o Arthurzinho havíamos acabado de almoçar juntos. Eu estava na cozinha e ele estava há menos de 3 metros de mim, brincando com os brinquedos no chão. De repente, ele ficou em silêncio, eu olhei para ele e o vi sem qualquer reação no mesmo local, no chão. Assustado e sozinho, tentei identificar o que estava ocorrendo, mas no momento de desespero não consegui entender ou detectar o motivo, a reação que consegui ter, naquele momento, foi de checar os seus sinais vitais, que estavam presentes. Imediatamente, coloquei ele no meu colo e o levei às pressas até a unidade de saúde mais próxima. Lá chegando, o médico imediatamente o atendeu. A equipe médica optou por chamar o SAMU, que chegou após aproximadamente 30 minutos, o que aumentou ainda mais a minha angústia, já que não sabia o que estava acontecendo com o meu filho. Após a sua chegada a equipe do SAMU rapidamente identificou o problema e retirou uma tampinha de garrafa pet das vias aéreas do meu filho. Infelizmente, ele já não apresentava mais sinais vitais”.
Na sequência, Carlos Alberto disse que não tem nada a esconder e que os fatos estão registrados pelas câmeras de segurança da casa.
“Vale ressaltar que os fatos foram registrados por meio das câmeras internas e externas da minha casa. As filmagens foram espontaneamente entregues por mim à corregedoria. Entreguei as filmagens de 6 câmeras, desde 00:01 até 21:00. Não há o que esconder. Disponibilizei tudo o que podia e continuo pronto a colaborar com o esclarecimento de fatos.”
O delegado disse ainda que fez de tudo para salvar a vida do filho:
“Eu FIZ DE TUDO PARA SALVAR A VIDA DO MEU FILHO. Quando ele engoliu a tampinha, estava próximo de mim, e o fez no momento em que eu estava organizando as coisas pós almoço. Não houve falta de cuidado, ele estava sendo monitorado, foi uma tragédia que eu não desejo a nenhum pai ou mãe. Pergunto então, quem é que vai imaginar que o filho vai morrer por ter uma garrafa pet de água mineral em casa? Em qual contexto esse resultado é imaginável ou esperado? Qual pai pode ser apontado como negligente por isso? Na verdade, fossem as acusações só de negligência, seriam menos dolorosas. Estou diariamente sendo chamado de assassino.”
Confira a carta na íntegra:
ESCLARECIMENTO DE CARLOS ALBERTO SOBRE A PERDA DO FILHO
Tudo o que eu não queria, neste momento de grande dor e sofrimento, era estar aqui tendo
que escrever esta mensagem.
Gostaria que esse momento de luto fosse preservado e respeitado por todos. Gostaria de
viver esse momento calado e tentar entender tudo o que aconteceu. Mas, infelizmente,
percebo que isso não será possível, em razão de tantas acusações que venho sofrendo, e
da grande repercussão social que tudo isso tomou. Sabemos que é no silêncio que mentiras
ganham roupagem de veracidade e é na internet que ela encontra solo fértil para serem
propagadas de forma muito veloz, chegando a tal ponto que se você não se manifesta
agora, poderá ser calado pela crença da mentira que ganhará força imensurável.
Sou Carlos Alberto, pai do Arthurzinho e, pela primeira vez, vou realizar esta manifestação
pública. Hoje é o terceiro dia da maior tragédia da minha vida e um dos mais tristes também.
Como é de amplo conhecimento, após desconfortável disputa processual, consegui por via
judicial que o meu filho Arthurzinho ficasse um período comigo. Viajei no natal a
Florianópolis para buscá-lo.
Com relação ao episódio fatal, na minha casa, eu e o Arthurzinho havíamos acabado de
almoçar juntos. Eu estava na cozinha e ele estava há menos de 3 metros de mim, brincando
com os brinquedos no chão. De repente, ele ficou em silêncio, eu olhei para ele e o vi sem
qualquer reação no mesmo local, no chão.
Assustado e sozinho, tentei identificar o que estava ocorrendo, mas no momento de
desespero não consegui entender ou detectar o motivo, a reação que consegui ter, naquele
momento, foi de checar os seus sinais vitais, que estavam presentes. Imediatamente,
coloquei ele no meu colo e o levei às pressas até a unidade de saúde mais próxima. Lá
chegando, o médico imediatamente o atendeu. A equipe médica optou por chamar o SAMU,
que chegou após aproximadamente 30 minutos, o que aumentou ainda mais a minha
angústia, já que não sabia o que estava acontecendo com o meu filho. Após a sua chegada
a equipe do SAMU rapidamente identificou o problema e retirou uma tampinha de garrafa
pet das vias aéreas do meu filho. Infelizmente, ele já não apresentava mais sinais vitais.
Vale ressaltar que os fatos foram registrados por meio das câmeras internas e externas da
minha casa. As filmagens foram espontaneamente entregues por mim à corregedoria.
Entreguei as filmagens de 6 câmeras, desde 00:01 até 21:00. Não há o que esconder.
Disponibilizei tudo o que podia e continuo pronto a colaborar com o esclarecimento de fatos.
Eu FIZ DE TUDO PARA SALVAR A VIDA DO MEU FILHO. Quando ele engoliu a tampinha,
estava próximo de mim, e o fez no momento em que eu estava organizando as coisas pós
almoço. Não houve falta de cuidado, ele estava sendo monitorado, foi uma tragédia que eu
não desejo a nenhum pai ou mãe. Pergunto então, quem é que vai imaginar que o filho vai
morrer por ter uma garrafa pet de água mineral em casa? Em qual contexto esse resultado
é imaginável ou esperado? Qual pai pode ser apontado como negligente por isso? Na
verdade, fossem as acusações só de negligência, seriam menos dolorosas. Estou
diariamente sendo chamado de assassino.
Reafirmo, NINGUÉM hoje sofre mais do que eu e a mãe do Arthurzinho. Infelizmente falta
empatia e solidariedade em geral, mas EU PERDI O MEU FILHO NA MINHA FRENTE. Eu
assisti a equipe médica tentar evitar a morte do meu filho sem sucesso. E vou ter que viver
toda a minha vida com a comoção de NÃO CONSEGUIR SALVAR O MEU PRÓPRIO
FILHO DA MORTE. Minha dor não está diminuindo. E sinto que somente piora a cada dia.
Não é pelo fato de que não me manifesto nas redes sociais que estou sentindo menos, pelo
contrário, tenho que suportar a dor da perda somada à falta de empatia e conforto que achei
genuinamente que teria da família materna, estou sendo acusado de algo que não é
verdade, além de ter sido tolhido do meu direito de me despedir de meu filho, devido às
ameaças e desconforto que a minha presença traria, preferi não ir ao velório e enterro, além
do fato de estar em oitiva. É fácil julgar o outro e imputar inverdades quando não se coloca
no lugar daquela pessoa.
Acreditei fielmente que ao ligar para o avô do Arthurzinho diante de tal situação eu teria
alguma palavra de consolo, e poderia contar com eles, afinal, a dor foi imensurável e
continua sendo, tal situação não deveria ter tomado esta proporção. Eu sempre estive
aberto a esclarecer e informar o ocorrido, não me esquivei ou escondi, estive SEMPRE
disponível para prestar qualquer informação, tanto que alguns familiares maternos
estiveram em minha casa pela noite no mesmo dia em que aconteceu a fatalidade para
questões procedimentais.
Estou em tratamento psiquiátrico e a cada acesso a redes sociais, as pessoas que jurei
defender no exercício do meu dever de delegado de polícia só ajudam a compartilhar
notícias de que matei meu filho. NÃO BASTASSE EU PERDER QUEM MAIS AMEI NESTA
VIDA NO MEU COLO, TENHO AINDA QUE PROVAR QUE NÃO O MATEI. Não basta a
pena do sentimento de impotência por não conseguir salvar meu filho?
Após receber a infeliz notícia de que perdi meu filho, entrei definitivamente em mais pânico
do que já estava dentro da unidade de saúde. Perdi o chão. Precisava incondicionalmente
de apoio naquele momento. Quis um familiar, mas nenhum parente eu tenho no Amapá.
Todos estavam em Minas Gerais. Então, busquei contar com apoio da família da mãe.
Liguei imediatamente para o avô materno, pai da mãe do Arthurzinho.
Tudo que eu queria naquele momento era um abraço de conforto. Afinal acabei de ver
morrer quem eu mais amava. Para o meu espanto e surpresa, recebi gritos pelo telefone,
ele começou a gritar, dizendo que eu era um assassino e que ele não iria ao hospital. Então,
sem minha família e sem apoio da família materna, dobrou o pranto. Liguei chorando para o
Vinícius, um dos poucos amigos que tenho aqui na cidade, e pedi por ajuda, pois não sabia
o que fazer, achei que os laços familiares compartilhados com a família materna seriam
bastantes diante da situação.
Quando ele chegou, eu só sabia chorar. Contei o ocorrido e pedi para que ele informasse a
família. Imediatamente ele ligou para o número do celular da mãe, a fim de informar a
fatalidade. Quem atendeu a ligação foi o namorado dela. Então, meu amigo disse que ele
(namorado) foi muito educado e ouviu de forma atenta tudo que estava sendo dito sobre a
tragédia. Certamente, a mãe foi informada dos fatos pelo namorado. Em seguida, pedi ao
Vinícius que ligasse, ainda do meu celular, para os parentes da mãe que residem em
Macapá. Ele o fez, começando pela irmã da mãe, tia LUINI. Ele colocou a ligação no modo
viva-voz, ela começou o diálogo com os seguintes termos: “TU É UM ASSASSINO
CARLOS. VOU FAZER DA SUA VIDA UM INFERNO!” (áudio anexo).
Ainda em choro, apenas desconsiderei a ofensa e desliguei a ligação. Considerando a gravidade da situação e a minha vontade de cumprir o meu dever de INFORMAR a família sobre o acontecimento, meu amigo fez outra ligação, pedindo para que ela se acalmasse e assim eu pudesse
esclarecer o que havia acontecido, porém, ela de forma rude e relutante a me ouvir disse
expressamente ao telefone: “Amigo de c* é r*la. Vocês mataram a criança” (áudio anexo).
Em seguida, o avô materno da criança chegou ao hospital esbravejando e de forma
descontrolada veio em minha direção, com a finalidade de me agredir, mas foi contido por
alguns familiares, conforme consta nas filmagens realizadas pelas câmeras do hospital.
Mesmo assim, pedi ao Vinícius, que com calma esclarecesse o evento a ele, pois ninguém
estava VERDADEIRAMENTE disposto a me ouvir e só queriam retrucar as minhas palavras
com acusações infundadas, além disso, minha presença causava cada vez mais conflitos.
Com isto, Vinícius tentou, novamente, contar como ocorreu o fato ao avô, o qual na frente
de todos funcionários do hospital disse: “É VOCÊ ENTÃO O AMIGO DO ASSASSINO” (fato
também gravado pelas câmeras do hospital). Em seguida, o avô saiu sem querer ouvir
qualquer explicação.
Logo em seguida, liguei para minha mãe, para informá-la sobre a tragédia que havia
acontecido com o Arthurzinho. Outra surpresa, ela já havia sido contactada pelos parentes
maternos, que disseram que eu havia assassinado o neto dela. Além de ter que lidar com a
maior tragédia da minha vida e com a avalanche de acusações recaindo sobre minha
cabeça, eu ainda teria que passar por mais isto: ver minha mãe idosa recebendo a notícia
da morte de seu neto com a acusação de que eu o teria matado. Situação desesperadora!
Em razão de toda acusação de assassinato e como forma de esclarecer toda a VERDADE,
solicitei o exame necroscópico no meu filho, para, em laudo, o médico legista explicitar a
causa da morte. Além disso, pedi à POLITEC que realizasse perícia na minha casa, para
afastar qualquer suspeita.
Neste sentido, após a saída da perícia, fui surpreendido por familiares em torno da minha
casa, proferindo gritos como: “seu assassino de criança”. E outros tantos (fato gravado).
Chorei muito antes da POLITEC chegar, tentei me conter durante a perícia, e desabei
depois, principalmente ao ouvir mais ofensas.
Em minha casa, familiares maternos solicitaram as roupas do meu filho para o
sepultamento, eu jamais imaginei que teria que escolher uma roupa para tal ocasião, não
sei como consegui fazer isto, ainda desnorteado com toda a tragédia ocorrida, peguei suas
roupinhas e entreguei a família.
Eu desejei profundamente ir ao velório, mas várias pessoas me informaram que alguns
familiares mais exaltados estavam me esperando no local do velório, com ameaças tais
quais foram feitas dentro do hospital tirando o meu último resquício de dignidade. Em outras
palavras, fui informado que minha presença no velório iria provocar tumulto generalizado, e
a família materna precisava deste momento final de paz com Arthurzinho. Inequivocamente
eles merecem sim a despedida em paz. Com pesar no coração, optei por não ir em auto
sacrifício, e para preservar a ordem da despedida do meu filho. Novamente no dia seguinte
fui informado que me esperavam no enterro para fazer a “vingança contra mim”. Me
ausentei novamente pelo mesmo motivo. Foi prudente e necessário. Ali no hospital me
mantive ao lado do meu filho por todo o tempo em que me permitiram estar perto dele, sem
saber que seria a última vez que eu o veria e que aquela seria a despedida que seria
oportunizada a mim, diante de toda a situação que já era delicada e se tornou com as
acusações de inverdades.
Quero na oportunidade me solidarizar verdadeiramente com a família. Mas, quero que não
se esqueçam que eu também sou a FAMÍLIA. Todos estão sofrendo muito, jamais em minha
vida gostaria que isso tivesse ocorrido. Não desejo isso a ninguém, eu era o maior
interessado em ver meu filho bem. Mas não se esqueçam que sou um pai que assistiu o
seu filho morrer. Não quero dizer que minha dor é maior que a de ninguém, mas também
não é a menor.
Continuo abalado e fragilizado emocionalmente, saliento que estou sob tratamento
psiquiátrico e psicológico para conseguir lidar com tudo isso.
Fica claro que realizei DIVERSAS tentativas de explicar o que havia acontecido com o MEU
filho, porém, as pessoas não estavam dispostas a ouvir a explicação da VERDADE, mas
pareciam mais dispostas a ouvir outro tipo de resposta, a de encontrarem um culpado.
Em razão de todos esses eventos de insinuações e agressividade das pessoas, eu não
tinha a mínima condição de comparecer ao velório e sepultamento do meu próprio filho.
Esse é um momento de muita dor, e peço mais uma vez que não façam mais julgamentos e
propaguem informações que não são verdadeiras. Todos estamos sofrendo com o que
aconteceu, não existem palavras que possam expressar tamanha a dor da perda de um
filho. Espero que todos vocês se coloquem apenas por um minuto em meu lugar e
imaginem ser acusados e linchados nas redes sociais por algo que não cometeu, ainda
mais de um crime cometido contra seu próprio filho. Algo que poderia ter acontecido com
qualquer pessoa.
Carlos Alberto.
11 de Janeiro de 2022.